27.10.09

O Milagre Brasileiro: O Céu é Aqui?

Há cerca de 40 anos o Brasil sob a mão de ferro da ditadura militar vivenciava o que se convencionou chamar “Milagre Econômico”. Tempos cuja taxa de crescimento ultrapassava 10% ao ano e a seleção canarinho ganhava seu tricampeonato. Apesar de alguma melhora na vida do cidadão comum o que sabemos é que esta época é foi marcada pela não divisão do bolo, o bolo cresceu e poucos ficaram com ele. Aumentou a concentração de renda e a pobreza.


Hoje o Brasil vive um momento que chamei no título de “Milagre Brasileiro” após as galopantes inflações da década de 80 onde os ricos ficavam ricos sem produzir nada, pois ganhavam mais com o dinheiro no banco que aplicado em produção. E os pobres assalariados tinham que correr ao supermercado a fim de que seu dinheiro ainda valesse alguma coisa antes do dia amanhecer e não desse mais para comprar o que compraria na noite anterior, pois as maquininhas remarcadoras de preço funcionavam várias vezes ao dia. Agora o salário mínimo que ainda não atende o que rege a Carta Magna, equivale a mais de U$ 250! Repito, ainda não atende as necessidades previstas no texto constitucional, mas em pensar que políticos há alguns anos brigavam para aumentar o valor do salário mínimo a U$ 100 vê-se um progresso. Diante da crise mundial causada pelos créditos podres da economia norte-americana, o Brasil foi o menos afetado e o que mais rápido apresentou sinais de recuperação. Faz parte do principal grupo das decisões econômicas do cenário internacional o G-20. Está também no BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China). quem acredite que este grupo ditará a nova ordem econômica mundial. O Brasil também luta por uma vaga permanente no conselho de segurança da ONU. Noticiou recentemente as reservas de pré-sal e é o único país detentor de tecnologia e know-how para exploração de petróleo em águas profundas. O ouro negro! Para os críticos desta riqueza suja, o Brasil possui base energética limpa: hidrelétrica, etanol, solar, eólica e tem potencial para gerar energia pelo movimento das ondas marítimas nesta vasta extensão litorânea. No cenário político internacional percebe-se o novo posicionamento do Brasil nas vitoriosas candidaturas a sediar a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Em um curto espaço de tempo será o centro dos dois maiores eventos esportivos do mundo.


As melhoras também se apresentam na diminuição da taxa de analfabetismo, aumento da expectativa de vida, redução da taxa de mortalidade infantil, mais de 12 milhões de brasileiros deixaram a linha da pobreza entre 2006 e 2008, mais domicílios ligados a rede de esgoto, socialização da rede mundial com crescimento do número de brasileiros com acesso à internet, redução da desigualdade de renda e tantos outros indicadores sócio-econômicos. É claro que estamos longe de países ditos desenvolvidos, mas não se pode negar de forma alguma os passos dados até aqui, e as mudanças significativas devem estimular a continuar sonhando com um Brasil cada vez melhor.


E por que gastei estes três parágrafos para explicar o “Milagre Brasileiro”? Para nos incitar a refletir sobre a troca da esperança celeste pela esperança terrestre, que se apresenta na prática pastoral e teológica na atual conjuntura da igreja brasileira. Na década de 80 as mensagens eram predominantemente escatológicas nos templos assembleianos. A esperança era celeste a ponto de ignorar a responsabilidade aqui, como alguns crentes tessalônicos havia quem nem queria mais trabalhar. Outros chegavam ao extremo, quando meus pais me tiraram de um colégio para um outro de melhor qualidade de ensino e, portanto, cobravam a mensalidade mais cara. Neste mesmo período a mãe de um colega de classe disse para minha mãe: Esmeralda, eu que não gastarei dinheiro com colégio, Jesus já está voltando! Já nos idos de 80 para cá a mensagem tem sido: vamos construir nosso céu aqui! As pessoas tem gostado tanto disto que já querem trocar o céu por uma estadia permanente aqui. Se uma geração esqueceu a terra, a outra esqueceu o céu. Será que a próxima esquecerá Deus?


Esta nova conjuntura que se formará em alguns anos revelará se a religiosidade brasileira é uma busca sincera por Deus ou uma fuga de problemas ou uma busca de riquezas.


Escrevi tudo isso para perguntar: Qual teologia responderá a nova situação social e econômica de um novo Brasil? Estaremos prontos para a nova prática pastoral exigida pelo novo contexto? Ou deixaremos para refletir quando acontecer? Como igreja viveremos mais uma vez atrasados em relação às mudanças do novo tempo?