21.8.09

Exército de Voluntários ou Exército de Soldados?

O voluntariado e o serviço cristão


Dia 25 de agosto é o Dia Nacional do Voluntariado. Ser voluntário é doar seu tempo, trabalho e talento para causas de interesse social e comunitário e com isso melhorar a qualidade de vida da comunidade. A definição do serviço voluntário é nobre e conquistadora. A Lei do Voluntariado (9.608/98) define juridicamente como o trabalho sem remuneração e sem vínculo empregatício prestado a entidades sem fins lucrativos com objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social. Então é um ato de se doar, de servir ao próximo, de colocar ao dispor do interesse coletivo nossos recursos pessoais. Tudo isso é muito belo e nobre. E em termos práticos o cristão deve “servir sem esperar nenhuma retribuição, apenas por amor ao próximo” como lemos em A Revolução do Voluntariado, de Hybels.

No entanto, o voluntariado traz consigo a compreensão da liberdade volitiva do ser em tomar parte em ações contributivas para a comunidade. E quando se fala do serviço cristão no corpo de Cristo em termos voluntários construímos a idéia de que o trabalho cristão é opcional, cabendo responder as demandas da seara de acordo com a minha volição (vontade) e não em atendimento a necessidade ou submissão à vocação que recebemos do nosso Senhor.

A igreja desde que se trabalhou o conceito de voluntários tem perdido bastante da presença de cristãos dispostos a trabalhar. É como canta o grupo Logos “quem ontem era servo agora acha-se senhor”. Não pesando mais, neste novo conceito de trabalho nas igrejas, o entendimento de nossa responsabilidade e privilégio como escravo (doulos = servo, escravo) de Cristo. Assim participa-se das reuniões e cultos na igreja local, mas não se compromete com nenhum ministério na casa do Senhor.

O apóstolo Paulo sempre se viu como servo na causa de Cristo, nunca como voluntário. E, depois de Cristo, Paulo é o maior nome do cristianismo. Quem foi adquirido por preço de sangue não se pode dar ao luxo de querer dizer o que fará ou o que não fará, simplesmente se rende diante do grande amor de Deus que lhe resgatou e lhe fez nova criatura e diz: “Eis-me aqui Senhor, envia-me a mim”.

Que pensar das palavras de nosso próprio Senhor quando ao dirigir-se ao Pai falou: “seja feita a tua vontade”? O trabalho voluntário pode ser descontinuado em favor do interesse do voluntário. O serviço cristão jamais pode ser abandonado pelo senso de conforto do servo, pois este serve em obediência ao seu Senhor. Procurando não agradar a si, mas Aquele que o alistou para a boa obra – “Ninguém que milita se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra” II Tm 2.4 Logo, somos participantes como pontua Erwin Lutzer, no livro de Pastor para Pastor, não de um exército de voluntários, mas um exército sob ordens.

William Hauser, coronel reformado, citado por Lutzer chama atenção que quando o serviço militar americano tornou-se facultativo quatro elementos para a “disposição para lutar” foram abalados. São eles:
  1. Aprender a submissão: pela realização repetida de tarefas desagradáveis;
  2. Vencer o medo: conhecer companheiros e confiar neles para incentivar combaterem lado a lado ao invés de fugirem do combate;
  3. Despertar a lealdade: a exigência do exército que os homens trabalhem, durmam e se alimentem juntos nutri o senso de responsabilidade pelo bem-estar mútuo;
  4. Desenvolver senso de orgulho: lembrando ao soldado que os outros dependem dele o que valoriza sua contribuição para a segurança e unidade.

Será que o conceito de voluntariado nos círculos eclesiásticos, em detrimento do conceito vocacional e de servo, tem sido um ingrediente em favor da insubmissão, medo, traição?
Os quatros elementos observados por Hauser foram fortemente reduzidos quando o serviço militar tornou voluntário. Tendo em vista que o interesse pessoal prevalece sobre o interesse da nação. De igual forma podemos dizer que quando nossos interesses pessoais prevalecem sobre o do Reino não viveremos o serviço cristão, mas o voluntariado o que difere de todo chamado e eleição apresentado nas Sagradas Escrituras. Toda disposição nossa é em obediência ao chamado de nosso General e não em escolher o que fazermos.

Que cristãos participem de campanhas de trabalho voluntário, assinem termo de adesão ao trabalho voluntário, contudo estejam movidos sobretudo pelo amor e serviço a Deus que se manifestará naturalmente numa ação positiva para com o próximo que além de expresssar saúde espiritual há estudos que demonstram que o doar-se em prestação ao próximo é fator de saúde e maior longevidade em relação aos que vivem ensimesmados.

¹ http://www.voluntariado.org.br/seja_voluntario/o_que_e.htm em 11/08/2009 às 13h17