20.10.07

Eclesiasticismo

Certa vez em sala de aula fui interrogado por um aluno: o que é Eclesiasticismo? Ele se referia a um texto que discorria sobre John Wycliff, a “Estrela d’Alva da Reforma”. No momento a formação etimológica da palavra me fora suficiente para defini-la, mas prometi trazer-lhe uma resposta mais técnica na aula seguinte. Caso esta pergunta se me fizesse hoje, acredito que para respondê-lo bastaria apenas que eu o pedisse para visitar alguma igreja - à sua própria escolha inclusive - regularmente.

Tenho presenciado e vivido às vezes como vítima, outras como espectador, e outras infelizmente como ator da institucionalização da igreja. Onde a estrutura, o sistema e a liderança eclesiástica tomam o centro da ação e atenção. Onde a Igreja deixa de ser pessoas e toma a forma institucional. Onde os esforços, energia e grande parte dos recursos, quando não todos, são exclusivamente empregados simplesmente para manter uma estrutura que se desenvolveu para ser meio, tornar-se fim em si mesma. Onde a simplicidade e firmeza das relações fraternas são substituídas pela presença anônima indiferente e indiferenciada. Quando a agenda de programações da denominação apenas enclausura seus membros e congregados, sufocando-os e impedindo-os entre tantas outras atividades, a tarefa da própria Igreja que muitas vezes é diferente da tarefa da instituição.

Não sou daqueles que se levantam contra todo e qualquer tipo de organização. Sou ciente da necessidade e utilidade da mesma. Sei que a Igreja de Jesus Cristo na terra são homens e mulheres, crianças, jovens e anciãos. E estes estão ligados e associados não somente na fé e misticamente no corpo de Cristo, mas também no globo terrestre nasce como que naturalmente uma organização, digo melhor, organizações, visto que nós, a Igreja, somos gente de várias organizações eclesiásticas e denominações, e inclusive, de gente que não se encontram em ambas.

Não defendo, diferentemente, me coloco contra a ausência da instituição na face da Terra. Até porque sua existência data dos tempos bíblicos e dos primórdios da Igreja. O que não posso aceitar é a tradição institucional assumir valor canônico como ocorreu com Roma; nem tampouco a vida da Igreja confundir-se com uma instituição terrena na promoção de interesses vergonhosos; a vida de um cristão girar em torno de uma organização quando deveria ser dirigida a Cristo; e a palavra do homem sobrepor a palavra de Deus. Isso é inadmissível, mas infelizmente as instituições e suas lideranças têm se preocupado mais com sua imagem e seus interesses, que não raras vezes diferem dos de Deus.

Que tal trocar o eclesiasticismo pelo Cristianismo?