29.9.07

Tijolos confundem, bits unem?

Depois da confusão da Torre de Babel a humanidade se viu diante de mais uma barreira de separação – a língua. Se antes todos se entendiam e falavam uma só língua, depois de Babel um mundo de uma só língua virou passado.

Há hoje cerca de sete mil línguas faladas no mundo. Mas pesquisas indicam que até o final deste século haverá apenas metade deste número. Em pesquisa financiada pelo National Geographic Society, David Harrison e Gregory Anderson apontam como causas a morte de pequenas populações, bem como simplesmente o desuso (http://www.opovo.com.br/opovo/internacional/730381.html). Já em uma outra pesquisa a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) fazia a mesma previsão, ou seja, cinqüenta por cento, contudo creditava tal extinção ao uso de novas tecnologias como a Internet.

Segundo a Sociedade Bíblica do Brasil, há mais 2.400 línguas com a tradução da Bíblia, completa ou em porções. Parece que estes números se encontrarão...

16.9.07

Não há salvação fora da Igreja!

Cipriano de Cartago já dizia no século III da presente era que fora da Igreja Católica não há salvação. E de fato não há salvação à parte da Igreja. Não igreja no sentido comum e imediato de nosso contexto hodierno, a qual associamos diretamente a uma compreensão organizacional humana. Mas no sentido místico do Corpo de Cristo. Todos aqueles que pela fé em Cristo Jesus são imersos, batizados neste Corpo como nos escreveu o apóstolo Paulo.

Ninguém afirmaria, estando no Espírito, que fora da Igreja Assembléia de Deus, ou Igreja Betesda ou Gileade, ou Igreja Batista, ou Igreja Presbiteriana, ou Metodista, ou Romana, ou seja, ela qual for não há salvação, pois tal afirmação não vem do Espírito, mas do orgulho da carne que quer sobrepujar uma organização humana além da verdadeira Igreja instituída por Jesus a qual é de fato um organismo. O revestimento de organização humana é a contraparte deste mundo presente, necessária, mas não possuidora de graça salvadora, pois o poder gracioso é dom de Deus e é Ele que pelo seu Espírito nos batiza no Corpo de Cristo, estando estes, portanto, salvos pela morte crucial vicária de Jesus.

Bento XVI tem sido infeliz em querer agregar debaixo de uma organização humana, Igreja Católica Apostólica Romana, toda a graça da salvação, apequenando Jesus Cristo, sua obra e sua amada Igreja. Já um teólogo romano - prefiro acunhar o termo romano a ICAR, visto que a verdadeira Igreja de Jesus é católica (=universal), ou seja abrange todos os cristão espacial (onde quer que estejam) e temporalmente (em qualquer tempo que tocaram, tocam ou tocarão a face da terra) - Peter Phan, segue no caminho extremo oposto de seu papa questionando se Cristo seria o único e universal salvador do mundo e por conseguinte a unicidade da igreja (http://www.estadao.com.br/vidae/not_vid50771,0.htm).

Nós, humanos, gostamos dos extremos, eu prefiro pedir a graça de Deus para me trazer ao são equilíbrio projetado por ele o qual nós encontramos em sua santa Palavra, a saber, não há salvação fora de Jesus, logo não há salvação fora da Igreja, pois só é Igreja quem está em Jesus.

1.9.07

Repensando a Igreja e Refazendo a Agenda

Estou fazendo este mês dois anos de casado, e há pouco mais de dois anos enviei o texto que segue para publicação em um de nossos meios impressos de comunicação, o mesmo não foi publicado e nunca recebi retorno sobre a censura, mas credito o corte ao tamanho do mesmo e não ao conteúdo. Talvez esta nota desestimule sua leitura dado os dois anos e meio de vida da escrita, mas quero que saiba que a questão levantada nele continua tão atual quanto na época.

“Bem-aventurados os que habitam em tua casa; louvam-te perpetuamente. (...) um dia nos teus átrios vale mais que mil; prefiro estar à porta da casa do meu Deus, a permanecer nas tendas da perversidade.” Sl 84.4, 14

Primeiramente, peço a você leitor, que se dispa de qualquer cuidado religioso, na concepção negativa da palavra, isto é, da religiosidade destituída de espiritualidade. Pois, alguns poderão ter seus ânimos tão aflorados que percam o senso de analisar objetivamente o que trataremos nesta reflexão. Segundo, que este texto ache em você a sã religiosidade, aquela revestida de espiritualidade. Terceiro, que sua sinceridade diante do texto o faça de fato repensar e que você não fuja do confronto desta triste realidade que tem invadido o nosso arraial.

Neste momento convido você pastor e líder de algum ministério na igreja a tomarem um papel e caneta e, em seguida, colunarem os 7 dias da semana, de domingo a sábado, e a alinharem os três turnos principais de um dia: manhã, tarde e noite. Assim feito, por favor, preencham as lacunas com as atividades de seu trabalho secular, ministerial e as programações da igreja da qual faz parte quer ativamente na promoção, quer ativamente na audiência (pois quem ouve também deve ter seu papel ativo, senão sua presença se torna inócua).

Tendo feito isso, restou-me apenas um turno noturno na semana, um matinal no sábado e um na tarde de domingo. A primeira folga dedico a cultivar o presente que Deus me deu, a minha noiva; a segunda folga, sempre estou a resolver alguma questão particular, visto que na semana não tive tempo disponível para fazê-lo e a terceira, ou estudo ou descanso, aliás ou estudava ou descansava, pois terei mais uma atividade neste horário por pelo menos três meses.

Algumas pessoas vibram com este tipo de agenda. Eu particularmente, não! Me preocupo com a demanda muito grande de atividades que nos cercam. Claro que não estou fazendo aqui apologia à ociosidade ou a uma passividade apática da qual alguns de nosso rebanho têm tomado parte. Mas fico alarmado quando nossas ocupações são tamanhas que faze-nos passar de largo diante do ferido no caminho de Jerusalém a Jericó, pois não podemos perder a programação que saiu no boletim ou rodízio da igreja! Não estou pregando o abandono congregacional, sou defensor ferrenho desta necessidade. Mas não consigo admitir a negação dos princípios do cristianismo dadas as exigências de uma agenda superlotada das programações de nossas igrejas! Defendo a constante programação no templo, desde que considerados públicos alvos diferentes. Mas não posso compreender uma programação contínua voltada a um mesmo público alvo! Por exemplo, o contexto urbano de Fortaleza e sua realidade econômica e produtiva têm requerido e proporcionado postos de trabalho noturno, o que gera a necessidade da igreja prestar cultos diurnos para atender nossos irmãos que devido o seu trabalho estão impossibilitados de participar dos cultos vespertinos ou noturnos. Mas, por outro lado, ao oferecer o culto matinal, a igreja não deve cobrar que seus membros façam parte dos dois cultos! Pois, ambos existem para atender pessoas diferentes.

O problema de nossas muitas atividades da qual exigimos a presença de todos se apresenta sintomaticamente em diversos aspectos, mas escolhi quatro para refletirmos sucintamente aqui, que são:

1) Pastoreio: há muito que a Assembléia de Deus, juntamente com outra variedade de igrejas, aqui falo com todo o respeito aos nossos pastores, quer reconhecidos convencionalmente quer funcionais, não praticam sua atividade pastoral essencial. Não deixam de cumprir suas atribuições administrativas até porque as necessidades imediatas os impulsionam a atendê-las primeiramente e existe a responsabilização civil. Já a ovelha sempre pode esperar, e sempre tem que compreender que pastor tem pouco tempo mesmo. Mas nós, o rebanho do Senhor, cremos que os pastores foram colocados não apenas para assinar papéis. Não precisamos de pastores despachantes, nem pastores litúrgicos de púlpitos, nem pastores engenheiros! Estes têm algum valor, mas antes de tudo precisamos de pastores de ovelhas, a essência de sua identidade tem que se expressar como atividade primária, as outras funções devem ser secundárias. Se você em seu coração já começou a rechaçar é difícil acreditar que você ainda tem um coração de pastor. Estas palavras acabam sendo um exame, um raio X, se te incomodam está na hora de se ajoelhar e falar com o Pai. Tenho pra mim que se pastor de ovelhas fosse como outras profissões, mas é uma eleição divina, graças a Deus, os jornais e as empresas de recolocação profissional estariam cheios de anúncios de vagas para pastor. As igrejas estão procurando. O rebanho do Senhor quer um homem segundo o coração de Deus, que ame mais as ovelhas do que métodos, atividades, resultados e números. Tenho ouvido o lamento de pessoas, não só da Assembléia de Deus, as quais têm se sentido como uma ovelha sem pastor. Este sentimento é terrivelmente assolador. Só sabe quem o vive. Corações que precisam não apenas de um discurso bonito, um pastor bem apresentável, que administra bem, mas precisam ser cuidadas, atendidas, tratadas como ovelhas do seu pasto. Conhecerem a voz do seu pastor e por ele serem conhecidas. Que fazem os pastores tão envolvidos em tantas atividades, mas tão longe das ovelhas? Que se vangloriam de suas agendas cheias e das suntuosidades de suas realizações? Que o Senhor, o nosso sumo-pastor, traga de volta àqueles ministros, “os que não guardaram o seu estado original”, a sua identidade pastoral. “Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, que vos apascentem com conhecimento e com inteligência.” Jr 3.15

2) Família: As pessoas são tão exigidas a estarem nos templos para as múltiplas programações que o tempo com a família acaba sendo negligenciado. Fazemos o discurso da importância da família, mas roubamos o pouco tempo que as pessoas tem de estarem em família rindo, brincando, conversando juntos. Como ter famílias saudáveis se elas não têm tempo de estarem juntas fortalecendo o laço de amor? Certa vez, em uma reunião de líderes de ministério de jovens, diante de uma proposta que ocuparia praticamente todos os sábados a noite, levantei a mão e solicitei reconsideração da data e periodicidade. De imediato, fui recriminado pelos demais. Apresentei o motivo de recusa da proposta: Precisamos ter tempo para as pessoas que amamos, família, esposa, noiva, namorada, amigos. As resistências à recusa permaneceram, ainda houve quem ousou dizer que precisamos dar prioridade ao reino de Deus. A minha pergunta é: Cuidar de pessoas, amar ao próximo, gastar tempo com pessoas não é viver o reino de Deus? Não é obedecer ao seu decreto, ao seu mandamento? Se não cuido bem da minha casa, devo ser reprovado ao episcopado (I Tm 3.4, 5) e também ao diaconato (v. 12). Primeiramente, preciso e devo estabelecer um ambiente de amor em meu lar. Naquela noite, apesar de terem cedido a minha contra-proposta, saí na certeza que grande parte daqueles líderes que deixam de lado suas esposas e filhos em prol da obra poderão ser chamados a pastorear(quer convencionalmente, quer supervisionando), já que funcionalmente já exerciam o papel, contudo no crivo de Deus não estariam aptos, pois não cuidavam primeiramente de suas casas. Que de nossas famílias se diga “todos quantos os virem os reconhecerão como família bendita do SENHOR” Is 61.9b

3) Enclausuramento: As muitas atividades entre quatro paredes têm mantido os cristãos numa espécie de resgate da filosofia monástica, guardada as devidas proporções. Alguns líderes chegam a declarar abertamente que precisa encher de programas a igreja para que os membros não se desviem. Que espécie de espiritualidade e liberdade cristã é esta? Que se sai do jugo e escravidão do pecado no mundo, mas passa-se a uma escravidão das atividades que consomem todo o tempo, pois caso não esteja envolvido irá voltar para o mundo? Que tipo de conversão estar sendo gerada? Uma conversão em que a pessoa é mantida no Corpo de Cristo sem liberdade de dizer não ao pecado? Uma conversão em que a pessoa permanece na Igreja porque ainda não teve tempo de tomar um fôlego, mas na primeira oportunidade que tiver voltará ao mundo? Ou cremos na conversão do Novo Nascimento, gerada pelo Espírito Santo, pregada por Cristo? Nesta o convertido tem liberdade de dizer não ao pecado. O que o liberta do pecado ou de voltar para o mundo não é o sufoco das atividades que o prendem a uma comunidade, mas pelo agir do Espírito em sua vida, pela sua nova identidade em Jesus, como diz Paulo “Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça.”! (Rm 6.14) O monasticismo em nossos templos chegou a um grau que o “Ide” cedeu completo espaço ao “Vinde”. E aquele quando cumprido já se é visando construir um novo mosteiro, pois já nasce sobre estas bases.

4) Indíviduo: Anomalias da devoção individual são facilmente detectadas. Indivíduos vazios procurando o preenchimento de suas necessidades básicas tanto emocionais, como espirituais. Compreensões e experimentação equivocada da espiritualidade. Troca e confusão de princípios cristãos com práticas seculares ou mesmo pagãs. A busca do senso de bem-estar espiritual nas freqüências às atividades eclesiásticas e, quando estas não satisfazem, procuram o muito envolvimento na própria organização e promoção dos programas da igreja. Nesta busca desesperada por um indulto divino, parece terem resquícios romanos sentados em suas mentes. Quem nunca ouviu em nossos templos “quero fazer-me merecedor da graça de Deus”? Diante de tal quadro é possível ver a supremacia do fazer sobre o ser. Claro que quem é, necessariamente faz. Mas quem faz, não necessariamente o é. O indivíduo é valorizado antes pelo que faz ou título funcional que ostenta. Aquilo que ele é não é tão importante. Então existe um motivador à hipocrisia, faça e será tido como espiritual. As identidades das pessoas são banidas. O que mais importa, não são elas, mas o que elas fazem. Não me importa o que elas como pessoas precisam, o que importa é que as engrenagens estão funcionando. A estrutura organizacional da igreja não está a serviço e ao cuidado de vidas, elas precisam funcionar, mesmo que custe a negação de sua originalidade que era servir. Quantos cristãos não têm sequer um só amigo ou amiga dentro dos nossos templos? Se a base do ministério de Jesus foi toda relacional e não de programas de igreja. Por que os relacionamentos estão tão escassos dentro dos nossos templos que muitas vezes estimulam o anonimato e a distância segura suficiente para esconder o verdadeiro eu? É esta uma prática cristã? Em verdade, em verdade vos digo que não. Pois Jesus “designou doze para estarem com ele” e depois complementa ”e para os enviar a pregar” Mc 3.14. Porque antes de programas e ações externas Deus quer tratar com o indivíduo, quer estar com ele. Antes de enviar a realizar a sua obra, Deus quer fazer uma obra no interior de cada um. Quer fazê-los entender a verdadeira espiritualidade. A qual não se encontra nem no monte da samaritana do poço de Jacó, nem em Jerusalém. Mas “os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores.” Jo 4.23 e aí sim habitarei perpetuamente em sua casa, estarei a porta da casa de meu Deus!

Caro leitor, reconsidere seu tempo e suas prioridades. Lembre-se de pastorear, de sua família, de que o reino de Deus rompe os limites territoriais do edifício no qual o rebanho do Senhor se reúne, e da verdadeira espiritualidade.