Cristianismo não é possível sem proclamação. Calvino, grande reformador, já dizia que a marca da verdadeira igreja é reconhecida pela pregação fiel do Evangelho e pelos santos sacramentos (Ceia e Batismo). A proclamação é parte vital do cristianismo. Pregar as boas-novas foi o que Cristo fez em seu ministério terreno. A identificação da fé cristã com a pregação é tão forte que o próprio Cristo é a Palavra em sua revelação perfeita. Palavra profetizada pelos profetas do AT e Palavra anunciada pelos apóstolos.
Aprendemos nos evangelhos que Jesus ia de cidade em cidade anunciando, proclamando, pregando a palavra. As últimas palavras de Jesus aos seus discípulos após a sua ressurreição foram as da comissão para a proclamação. Vemos o quanto a pregação da Palavra é central na fé cristã.
A Igreja tem a função universal da proclamação. E entre os seus membros há alguns que tem um chamado especial para serem ministros da Palavra. Estes recebem uma unção especial de Deus para serem pregadores de sua santa Palavra.
Contudo, em nossos dias, os termos pregação e pregador têm sido evitados, visto que pregador soa agressivo ao homem moderno. Usa-se preletor, palestrante. Pois quem prega anuncia, transmite o que recebeu, fala do que foi revelado. Quem palestra não necessariamente prega, hipotetiza, ventila sua opinião, todas as opiniões e idéias são válidas e verdadeiras. Já o pregador não, o que prega é a Verdade que ele recebeu e que ele anuncia. Ele não indaga, ele não está em questionamento, ele não está construindo seu pensar. O pregador prega porque crer na não relatividade dos valores e da verdade. Prega porque crer em valores e verdade absoluta.
Em um livro de John Stott, lemos que os sermõezinhos de hoje tem gerado os cristãozinhos de hoje. De fato olhando o crescimento evangélico brasileiro vemos sem muito esforço que nossos púlpitos tem gerado cristãozinhos. Mas por quê? Quais seriam as razões que nos têm trazido conseqüências tão drásticas?
Não precisamos ir muito longe basta olharmos a nossa realidade. Se os que comem do altar muitas das vezes sobem despreparados que se dirá da maioria de nossos pregadores que são pessoas que labutam em outras atividades e o tempo que lhes resta para preparar o sermão é quase nenhum. O tempo de uma pregação de 40 minutos deve custar ao pregador um preparo de no mínimo 3 horas. Leitura, oração e pesquisa. Mas não raro acontece de o pregador subir ao púlpito com preparo indevido. E ainda culpar o Espírito Santo, ao distorcer as palavras de Jesus de que não deve se preocupar com o que deveriam falar, pois o Espírito Santo lhes daria palavras ao abrir da boca. Vale ressaltar que, Jesus não falava a respeito de pregação, o contexto desta ajuda divina é outro. O Senhor não premia o negligente e preguiçoso.
É oportuno nesta oportunidade lembrar aos pastores de tempo integral que assumem tanto o pastoreio como a administração da igreja que é razoável verificar o quanto a administração tem consumido do seu tempo. Pois você foi chamado para pastorear vidas. Veja o nobre exemplo que os apóstolos nos deixaram: “Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos à mesa. Escolhei, pois, irmãos (...) sobre este importante negócio. Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra.” At 6.2-4.
E o que dizer dos que profissionalizaram o altar? A pregação contemporânea tem sido marcada por alguns tipos de pregadores, e o tipo de pregador reflete-se em sua pregação. Fiquei muito agredido ao folhear uma revista dita cristã. A mesma parecia mais um classificado onde a mercadoria a venda era do tipo “cantor ungido”, “Pregador Internacional”, “preletor internacional”, “ligue agora mesmo e leve poder e unção para sua igreja, pastor X” “Leve cura para sua igreja, Apóstolo Y, milhares de curas.” Quem compra a pregação tem direito de exigir o que quer. Pois, se estabelece a relação fornecedor-cliente, vendedor-consumidor. E como consumidor não duvido que em alguns dias vejamos reclamações de direitos contemplados no Código de Defesa do Consumidor.
A verdadeira pregação não é vendida nem comprada. A verdadeira pregação é livre. Pois, a voz do proclamador tem compromisso apenas com a Verdade, com a Palavra. Ser abençoado por uma congregação que assume o seu papel de “não atar a boca do boi que debulha” é lícito, honesto e bíblico. Mas qualquer relação mercantilista que tira da igreja a voluntariedade de obedecer ao princípio do sustento do obreiro é mercenária.
A pregação contemporânea tem trazido aos púlpitos discursos politizados, psicologizados, positivistas, de auto-ajuda, hipnóticos, marketeiros, e isso quando tem alguma coisa, pois também há os discursos vazios, que como dizia um pastor, é só enchimento de lingüiça.
A pregação pura e genuína da palavra de Deus está substituída pelas necessidades aparentes não tocando na mais profunda necessidade de todo ser humano.
Se prega coroa, mas não cruz. Vitória, mas não luta. Salvação, mas não arrependimento. Vida nova, mas não mudança de vida. Costumes, mas não a sã doutrina. Graça, mas não disciplina. Céu, mas não inferno. Abastança, mas não privação. Aprovação, mas não provação. Promessa de leite e mel, mas não deserto. Reputação, mas não caráter. Aparência, mas não essência. Outros pregam o inverso. Mas a plenitude da Palavra é sacrificada.
Portanto meus irmãos sejamos pregadores do genuíno Evangelho. Não se importando em produzir sensações momentâneas e artificiais nos ouvintes, em apresentar a mais nova descoberta espiritual não revelada desde os apóstolos. Preguemos a Palavra, tão somente a Palavra, e deixemos que o restante é com o próprio Senhor. Ele toca no mais profundo, produzindo mudanças e sensações sinceras e produtivas.
11.8.08
Sermõezinhos produzem cristãozinhos
Postado por
Hilquias Benício
às
20:07
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