O século XX presenciou muitas mudanças no cenário teológico. Quem sabe conhecendo um pouco de história compreendamos melhor a rejeição tão comum no meio pentecostal à teologia em décadas anteriores e ainda remanescente hoje. Com a história aprendemos também que o não conhecimento, ou o não aprendizado com o passado, faz com que trilhemos por caminhos que não levam a lugar algum.
O século passado ficou caracterizado por uma passagem do modernismo para o pós-modernismo. A teologia cristã do século XX ficou caracterizada pela suas múltiplas faces. A teologia cristã iniciou o século com, digamos, a popularização do liberalismo teológico, que já estava presente nos seminários teológicos no século XIX. Os teólogos liberais viram a necessidade de reconsiderar as doutrinas cristãs dentro da nova concepção moderna do mundo. Não tinham o intuito de rejeitar o cristianismo, mas de reformula-lo à luz da modernidade, valorizando, sobretudo, a razão. Com isso doutrinas ortodoxas foram questionadas, reinterpretadas, e não poucas vezes negadas como o nascimento virginal de Jesus Cristo, sua ressurreição, a deidade de Jesus, como também milagres e a própria historicidade de Cristo. Na verdade a teologia liberal em si não é uniforme, dentro deste rótulo há diversos pensamentos.
Em contrapartida ao liberalismo um grupo de cristãos norte-americanos formou uma frente contra o pensamento dos teólogos liberais e em defesa dos fundamentos do cristianismo ortodoxo. Os que reafirmaram as doutrinas ortodoxas, dentre elas, a inspiração e inerrância das Escrituras, eram os intitulados fundamentalistas. Estes cristãos conservadores investiram para manter o que julgavam ser o autêntico evangelho.
Karl Barth, filho do liberalismo, percebeu que a Teologia Liberal não atendia aos anseios daqueles que freqüentavam a igreja que pastoreava em Sanfewil. Seus sermões não tinham significado e impacto. Como se não bastasse se indignou ao ver que dezenas de seus mestres liberais assinaram manifesto de apoio a guerra. Foi então que percebeu que o liberalismo teológico não satisfazia. E com a publicação de seu famoso comentários aos Romanos golpeou fortemente a Teologia Liberal e deu-se início a Neo-ortodoxia ou Teologia da Crise, um movimento antiliberal que visava reconduzir a teologia protestante ao pensamento dos reformadores. Como sintetizou Niebuhr, neo-ortodoxo norte-americano, a respeito da abordagem liberal “Um Deus sem ira levou um homem sem pecado a um reino sem julgamento por meio das ministrações de um Cristo sem cruz”.
Mas a teologia cristã no século XX não para aí surge a Teologia do Processo, onde depois das tragédias das duas grandes guerras mundiais perguntas incômodas pedem respostas. Perguntas já feitas anteriormente, mas que voltam com uma nova força, por exemplo “como Deus sendo todo-poderoso e bom, pode permitir tanta maldade no mundo? Ou Ele é onipotente e não é bom, ou é bom, mas nada pode fazer para impedir o mal no mundo”. Some-se a isto o valor da filosofia naturalista e biologia evolucionista, que contribuiu para uma visão, digamos, evolucionista de Deus. Isso é Deus se conhece, cresce e existe com o mundo. Como na filosofia de Hegel, “Deus sem o mundo, não é Deus”. Essa teologia via Deus como um ser não onipotente, passível de sofrimento e dinâmico (em mudança), rejeitando a visão clássica platônica de Agostinho que a perfeição não sofre variação. Portanto, de acordo com esta visão, Deus muda com o mundo. Pois, ele nada pode fazer diante do livre-arbítrio do homem, apesar de Ele desejar o bem, ele sofre ao ver o homem escolher o mal. E o futuro está oculto aos seus olhos, pois dentro do relacionamento com a sua criação Ele desconhece o que o homem escolherá. Não sei se você percebeu alguma semelhança entre a Teologia do Processo e a Teologia Relacional recentemente motivo de cisão em uma igreja cearense, a verdade é que quando ignoramos o passado, os dilemas teológicos podem se repetir.
Outro fato que marca o século XX é o Concílio Vaticano II que trouxe algumas aberturas na teologia romana. Aboliu-se o index, lista de livros proibidos; as missas passaram a ser ministradas na língua do povo, não mais em latim; os teólogos católicos romanos passaram a ter liberdade de escrever sem que seus escritos passassem previamente por censura; uma maior participação de leigos na liturgia; e uma maior abertura com as demais correntes religiosas ditas cristãs.
Não se pode esquecer de citar também a famosa Teologia da Libertação, no Brasil e na América Latina marcada essencialmente pela libertação da situação de miséria e pobreza, e em solo norte-americano a Teologia da Libertação Negra e a Feminista. Teologias estas que trocaram o transcendente, pelo o aqui e agora, e claramente perderam de vista o evangelho quando enfatizaram sobremaneira as opressões presentes aqui, as quais não devem ser toleradas, contudo não podem sobrepor a maior opressão, a do pecado que escraviza e mata o homem.
Bem, para que não se repitam os erros passados nada melhor do que aprender um pouco de história de teologia, estando bem embasado biblicamente e em relação devota para com Cristo Jesus para não ser enganado pelos argumentos plausíveis que se repetem de tempos em tempos.
6.2.08
Teologia, também tem história
Postado por
Hilquias Benício
às
19:58
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